segunda-feira, 12 de março de 2018

JUDAÍSMO NAZARENO - YEHUDIT NOTZERIT - יהודית נצרית

Por: Rosh Marlon Troccolli
Do site: http://www.judaismonazareno.com 



JUDAÍSMO NAZARENO -  YEHUDIT NOTZERIT -   יהודית נצרית

Introdução:

Estamos vinvenciando realmente uma verdadeira Restauração ou apenas mais um Modismo??? Muitos aproveitando o gancho do movimento Restauracionista, lançaram cada um a sua própria versão de Teshuvah ignorando completamente os verdadeiros precursores dessa verdade bíblica, os judeus Notzerim, o que nos faz concluir que, é aquela velha ideologia cristã disfarsada de judaísmo onde cada denominação quer ser melhor e se acha mais certa do que a outra, e todas se aproveitando da doutrina romana de cobrança do Dízimo para poderem criar seus impérios denominacionais na mídia, hoje o que vemos é uma verdadeira salada mista de crenças e dogmas variados no meio daqueles que se dizem cer no Messias Yeshua, cada denominação pseudo-judaica cria o seu próprio credo diferenciado do credo dos verdadeiros seguidores do Messias, isto é, toda a Halachá Notzeri encontra-se nos escritos dos Emissários, basta ler e seguir, mas ao contrário disto, tais denominações se lançam a inventar crenças e dogmas contrariando o dito dos Emissários, ou seja, umas correntes pregam que gentio não precisa cumprir a Torah mas apenas uma FANTASIOSA  “Leis Noéticas” criada pelo judaísmo rabínico, outras correntes são mais radicais e OBRIGAM os gentios a se circuncidar e virar judeu prosélito ameaçando até de proibir que tais gentios participem da Pêssach caso não se circuncidem, contrariando a ordem de Yeshua, outras correntes querem por que querem ser reconhecidos pelos judeus ortodoxos e se danam a transvestir-se iguais a eles imitando seus costumes e erros escriturísticos, outras correntes aceitam a doutrina romana da trindade católica ou do unicismo trazendo vergonha e desprezo aos seguidores de Yeshua. 
Este é o retrato infeliz do dito judaísmo messiânico, mas felizmente Adonai não poderia ficar sem suas testemunhas, os Remanescentes de Yisrael, aquelas que a seu tempo determinado iriam fazer Teshuvá para levar a Luz do Messias ao mundo, como está escrito na profecia de Isaías:

“Porque, ainda que o teu povo, o Yisrael, seja tão numeros como a areia do mar, o Remanescente deste povo se CONVERTERÁ, e depois virá uma destruição transbordante de justiça” (Isaías 10:22)

De fato muitos de Yisrael estão retornando, conforme a profecia, e estão trazendo a Verdadeira Restauração e a Verdadeira Teshuvhá do Eterno, estes Remanescentes estão entre os judeus Notzerim ou nazarenos, os verdadeiros seguidores do Messias, eis agora um esboço de quem somos e em que cremos.

Quem Somos:

O Judaísmo Nazareno nasceu após a descida da Ruach haKodesh(Espírito Santo) sobre os discípulos de Yeshua haMashiach(Atos 2), que os habilitou a anunciar a Besorat Hatsalah(boas novas de salvação), começando em Yerushalaim, Judeia e até os confins da terra, inicialmente a Qahal Notzeri(Congregação Nazarena) era formada exclusivamente por judeus que faziam a Teshuvá ao reconhecer Yeshua como o Messias prometido a Yisrael (ver Atos 2:41 e 21:20), mais tarde vieram os gentios, que se convertiam ao Eterno D'us de Yisrael fazendo parte da mesma Congregação do Eterno tornando-se Um com Yisrael, os judeus nazarenos tiveram a primeira oposição por parte do judaísmo comum  que os perseguiam por não fazerem parte do sistema religioso apóstata, mais tarde, com a destruição de Jerusalém e do Templo, os nazarenos foram perseguidos pelo império romano juntamente com os demais judeus da diáspora, e, com a fundação da igreja católica romana pelo imperador Constantino, Roma tentou eliminar os  nazarenos da face da terra em uma feroz perseguição que se alastrou por toda a idade média com o surgimento da santa inquisição cristã, os nazarenos só sobreviveram unicamente pela vontade do Eterno que protegeu a Mulher(Qahal) Vestida de Sol e com uma Coroa de 12 Estrelas(12 tribos) na Cabeça (ver Apocalipse 12:1), Adonai a sustentou não permitindo que seus filhos fossem dizimados pelos gentios(Apocalipse 12:6). 
Exatamente como disse Shaul haShaliach:

"Assim, pois, agora, no tempo presente, sobrevive um Remanescente/Notzer segundo a eleição da Graça"  (Romanos 11:5) 

Todo judeu que sai do sistema religioso  para fazer sua Teshuvh ao Eterno, reconhecendo Yeshua haNotzeri como o Messias prometido a Yisrael, voltando a praticar a nossa Fé Patriarcal, a Fé que uma vez foi entregue aos Santos (ver Judas 1:3), tal judeu torna-se um Notzer, fazendo parte dos Remanescentes do Eterno, a Nação Sacerdotal que tem por Missão ser Luz aos gentios:

"Sim, diz Adonai, achas pouco o seres meu Servo, para Restaurares as Tribos de Yaakov e tornares a trazer os Remanescentes de Yisrael, também te constituí como Luz aos gentios, para seres a minha Salvação até os cofins da terra" (Isaías 49:6)

Esta é a nossa Missão e assim devemos proceder.

O que Cremos:

O Judaísmo Nazareno é absolutamente MONOTEÍSTA, a base de nossa crença esta no Shema Sagrado conforme Moshe e Yeshua haMashiach nos ensinaram:

 שׂמע ישׁראל יהוה אלהינו יהוה אחד - Deuteronômio 6:4 / Marcos 12:29

Shema Yisrael, Adonai Eloheynu, Adonai echad - Deuteronômio 6:4 / Marcos 12:29

"Ouve ó Yisrael, o Eterno é o nosso D'us, o Eterno é Um" (Deuteronômio 6:4 / Marcos 12:29)

A Torah Sagrada é a nossa Regra de Fé e prática, e o Tanach e os Ketuvim Notzerim (vulgo novo testamento) como base de estudos para assuntos de Fé, o restante de nossas crenças estão expostas em nossa Declaração de Fé.

O que Praticamos:

Das 613 Mitzvot, praticamos as que dizem respeito a cada categoria, ou seja, quem for judeu homem pratica os Mandamentos para homens, quem for mulher pratica os Mandamentos relativos às mulheres, quem for Cohem pratica Mandamentos relacionados aos Cohanin, quem for gentio pratica os Mandamentos acessíveis aos gentios, sendo que no Geral a Torah está disponível a Todos, não havendo exclusões por castas, etnias, raças e etc...

O que NÃO Praticamos:

O Judaísmo Nazareno NÃO É PROSELITISTA, não forçamos e nem obrigamos gentios a se Circuncidar, e nem convertemos judeus, os gentios vêm pela Fé e os judeus pela Revelação do Espírito, como aconteceu conosco, o judeu não deixa de ser judeu ao reconhecer o Messias Yeshua e nem o gentio precisa virar judeu prosélito circuncidando-se, acatamos a halachá dos talmidim: "Cada um permaneça na vocação em que foi chamado" (I Coríntios 7:20), o judeu faz Teshuvá e retorna à sua Fé Patriarcal e os gentios são aceitos pela Fé no Messias tendo sido Circuncidados seus Corações pelo Espírito do Eterno de acordo com a Torah Sagrada (ver Deuteronômio 10:16), com os Profetas (ver Jeremias 4:4) e com as halachôt dos Emissários (ver Romanos 2:28 e 29 / Colossenses 2:11).
NÃO RECONHECEMOS o Talmud como sendo inspirado, utilizamos apenas alguns de seus ensinos dos quais não firam a Fé Notzeri, seguimos o conselho do Rabbi Shaul haShaliach que diz: “Observai todas as coisas e retende o que for bom”  (I Tessalonicenses 5:21)
NÃO COBRAMOS DÍZIMOS dos fieis pois, segundo a Torah, a Mitzvá do Dízimo é prerrogativa unicamente dos Levyim-Cohanin (levitas-sacerdotes) entregue somente no Beyt haMikadesh (templo sagrado) e destinado a obra ministerial dos Cohanin, sendo que, qualquer entidade, religião ou denominação religiosa que se propuser a cobrar Dízimos estará VIOLANDO a Torah Sagrada.
Não estamos ligados a NENHUMA religião ou instituição religiosa tais como cristianismo, judaísmo rabínico ou islamismo, e nem a NENHUMA instituição cripto-judaica como judeus messiânicos, CINA, da Unidade, do Caminho, etc..., respeitamos todos os credos mas não compartilhamos com nenhum, o Judaísmo Nazareno continua seguindo as mesmas regras estabelecias no seu Primeiro Concílio de Yerushalaim (ver Atos 15), isto é, não precisamos ser reconhecidos pelo sistema religioso judaico, e nem precisamos adotar regras ortodoxas (haredi) para sermos considerados judeus, o Judaísmo Nazareno recebeu sua autoridade diretamente do Messias Yeshua quando nos comissionou ao seu ministério, por isso, agimos igual aos Emissários quando foram obrigados pelo sistema religioso de sua época a não mais ensinarem em nome do Messias, eles responderam com toda Autoridade do Eterno:

"Tomai conhecimento, vós todos e todo o povo de Yisrael, de que em nome de Yeshua haMashiach, o Notzeri,... a quem o Eterno ressuscitou dos mortos, sim, em seu nome e autoridade é que curamos e pregamos perante vós" (Atos 4:10) 

"Então Pedro e os demais emissários afirmaram: Antes, importa obedecer ao Eterno do que aos homens" (Atos 5:29)

Onde Atuamos:

Os judeus Notzerim estão espalhados por todo o mundo, em Yisrael há a maior concentração deles, porém, sempre que um judeu reconhece o Messias Yeshua torna-se automaticamente um Notzer e passa a fazer parte da grande Qahal/Congregação do Eterno, oramos sempre para que Adonai Eterno abra os olhos de nossos irmãos separados para que vejam o Messias exposto nas Escrituras. Aqui no norte do Brasil, onde concentra-se a maior colônia judaica Sefardita do país, mais precisamente em Belém do Pará, temos a Congregação Judaica Sefardita Notzeri Beyt B’nei Avraham, que abre suas portas para receber a quem quiser compartilhar conosco da Fé que uma vez foi entregue aos Santos.

!!!!!!שלום עליכם

Shalom Aleichem!!!!!!

Rosh: Marlon T. Troccolli

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O PRIMOGÊNITO DA CRIAÇÃO

Por: Rosh Marlon Troccolli
Do site: http://www.judaismonazareno.com 


O Primogênito da Criação

Embora os cristãos, tanto trinitaristas como unicistas, não medirem esforços para DETURPAR as Santas Escrituras, manipulando os textos sagrados e forçando a Bíblia a mentir para dar respaldo aos seus dogmas e crenças heréticos, ainda assim, as Escrituras nos revelam sempre a Verdade, basta tirar os óculos de Roma que a verdade aparece revelada.

Os nazarenos históricos do primeiro século, que eram versados nas Escrituras, segundo relatos de seus próprios oponentes, sempre conheceram estas Verdades de que o Messias de Yisrael seria uma criatura do Eterno, enviado para cumprir um propósito divino. Declarações como as do rabbi Shaul haSheliach e de Yochanan não deixam dúvidas quanto a isso, vejamos:


“Ele é a imagem do Elohim que é invisível, o Primogênito de toda a Criação” (Colossenses 1:15)


Shaul não tirou isso de sua mente, isso não reflete o pensamento pessoal dele como os cristãos afirmam, tentando deturpar suas palavras ao afirmarem que a palavra “primogênito” em questão não quer dizer exatamente o primeiro dentre os seres criado pelo Eterno, eles chegam até a apresentar certos textos bíblicos como Êxodo 4:22 e Jeremias 31:9 mas de forma totalmente descontextualizada.
Todavia, Shaul fez tal declaração respaldado nas Revelações das Escrituras, mais precisamente baseado no texto de Provérbios como veremos a seguir:

“Adonai me Criou no início de Sua Obra, sou o Primeiro de suas Obras mais antigas. Fui estabelecido desde a eternidade, desde o princípio, antes da criação da terra”(Provérbios 8:22-23)

Embora o texto inicie falando sobre a sabedoria do Eterno, porém o judaísmo rabínico entende que o restante do texto refere-se ao Messias vindouro, o Talmud Judaico baseado nas revelações de Provérbios também confirma o que Shaul declarou, vejamos estas citações do Talmud Judaico sobre a preexistência do Messias:

Midrash Tanchuma: "Foi exaltado acima de Avraham, exaltado acima de Moshê, e ainda mais exaltado do que os Arcanjos. O mundo foi criado para o Moshiach” (Talmud - Tratado San'hedrín 98b; Midrásh Pessíkta Rabáti 34:6)

“O Messias existia antes da criação do mundo e também estava presente na criação do mesmo” (Midrásh Gênesis Rabá 1:4)

Nedarim 39b: “... Sete coisas foram criadas antes do mundo: A Torah, o arrependimento, o Jardim do Éden, o Guehinom, o Trono de Glória, o Templo, e o nome do Messias.”

Pesikta Rabbati, Piska 33: “Você encontrará que no comecinho da criação do universo, o Rei Messias já veio a ser, porque ele já existia no pensamento do Eterno muito antes de o universo ter sido criado. Da sua existência as Escrituras dizem, ‘e brotou um tronco de Jessé’ (Isaias 11:1), não diz ‘e brotará’, implicando que o ‘rebento’ da raiz de Jessé já veio a existir.”

Era exatamente este também o entendimento dos nazarenos históricos, razão na qual levou Shaul a se referir ao Messias como o Primogênito de toda a Criação.

Sheliach Yochanan ao escrever as revelações do Apocalipse, também usou a mesma definição baseada no texto de Provérbios, seria muita coincidência vindas de pessoas diferentes e em épocas diferentes, entretanto, esta era a maneira como os nazarenos do passado interpretavam as Escrituras hebraicas, vejamos:

“Ao anjo da Congregação que está em Laodiceia, escreve: Assim fala o Amén, a Testemunha fiel e verdadeira, o Primeiro da Criação do Eterno” (Apocalipse 3:14)

Neste texto Yochanan usa dois termos a mais “testemunha fiel”“verdadeira”, isso tem um significado muito profundo incluso na essência do texto, vejamos, se o Messias foi o primeiro ser criado dentre toda a criação do Eterno, logicamente ele testemunhou a criação da terra, ele pode dar o seu testemunho fiel e verdadeiro sobre tudo que ocorreu no princípio de tudo.

Segundo o mesmo Yochanan, o Messias era a Palavra que estava na boca do Eterno: “No Bereshit (princípio) era a Palavra e a Palavra estava com Elohim... “ (Yochanan 1:1).

Yochanan diz que o Messias sendo a Palavra que estava na boca do Eterno, serviu de instrumento para a obra da criação, ou seja, Adonai utilizou-se desta mesma Palavra para criar todas as coisas, fato declarado em Hebreus: “Pela emuná nós cremos que o universo foi formado pela Palavra do Eterno...’’ (Hebreus 11:3)

Por isso, Yochanan declarou:

“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele (enquanto Palavra de D’us), e, sem ele (enquanto Palavra), nada do que foi feito se fez” (Yochanan 1:3)

Desta forma fica bastante claro entendermos a declaração de Isaías, quando este nos revela que Adonai Eterno criou tudo Sozinho:

“Assim declara YHWH, o teu Redentor, o mesmo que te formou deste o ventre materno: Eu Sou YHWH, que faço todas as coisas, que Sozinho estendi os céus e Sozinho firmei a terra por Mim mesmo” (Isaías 44:24)

Aqui fica claro que o criador é o Eterno, e criou tudo sozinho, a Palavra serviu apenas de instrumento da criação mas o agente criador é o Eterno. A semelhança de um pintor que cria uma obra de arte, e para fazer a sua criação o pintor se utilizou de instrumentos como pincel, tinta e tela, mas a mente que criou e elaborou a obra de arte foi o pintor. 
Assim ocorreu na criação, Adonai usou a Palavra como instrumento de sua criação, mas a mente criadora que elaborou tudo foi o Eterno, e Ele fez isso sozinho. É interessante percebermos que, quando não há a influência de Roma tudo fica mais esclarecido, as Escrituras se coadunam sem precisar de uma forçação de barra.

Yochanan continua suas declarações ao dizer que o Messias nos revelou o Eterno como sendo o Pai de todos nós:

“Ninguém jamais viu o Eterno; o filho unigênito que está no seio do Pai, foi quem o revelou” (Yochanan 1:18)

Adonai Eterno é conhecido no Tanach por diversos títulos tais como El Shaday, Elyon, Adonay, Elohim entre outros, mas como Avinu-Pai, raramente aparece, Yeshua foi quem deu início ao conceito de Pai para o Eterno, ao chama-lo de Pai em sua mais célebre oração Avinu Shebashamayim, o Pai Nosso e bem como na maioria de seus discursos, Yeshua sempre se referia ao Eterno como seu Pai e nosso Pai, assim, Adonai foi-nos revelado como o Pai Eterno pelo Messias, da mesma forma como Moisés nos revelou o Eterno pelo seu próprio Nome, YHWH.

Adonai disse que Ele havia se revelado aos nossos Patriarcas por alguns títulos dentre os quais El Shaday ou Todo Poderoso, porém, com o Seu Nome Sagrado YHWH Ele se revelou a Moisés e este nos revelou:

“Disse Adonai a Moisés: Eu Sou YHWH, me revelei a Abraão, a Isaque e a Jacó como o El Shaday, mas pelo Meu Nome, YHWH, não lhes fui conhecido... Portanto, revela aos filhos de Yisrael: Eu Sou YHWH...” (Êxodo 6:2-6).

Nossos Patriarcas até Moisés não conheceram o Nome do Eterno, porém, esta incumbência Ele deu a Moisés o enviado do Eterno, da mesma forma como foi dado ao Messias o ministério de nos apresentar Adonai como o nosso Pai Eterno.

Conclusão:

As Escrituras sempre se completam quando não há adulterações, mesmo que pessoas desonestas tentem deturpar o entendimento das mesmas, elas ainda assim nos revelam algo de precioso quando a lemos com a ajuda da Ruach do Eterno, sem a influência do paganismo vigente, sigamos o conselho de nossos sábios do passado, ao lermos as Escrituras devemos sempre pedir orientação divina pois isso nos será dado com toda certeza.

“Se algum de vocês necessita de sabedoria, peça-a ao Eterno, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida” (Tiago 1:5)

Shalom aleichem!!

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Os Ketuvim Notserim


Por: Rosh Marlon Troccolli
Do site: http://www.judaismonazareno.com 


Introdução:

A coleção de livros e cartas conhecidos no meio judaico nazareno como Ketuvim Notserim ou Escritos Nazarenos, vulgarmente denominado pelos cristãos de “novo testamento”, formam uma coleção de escritos deixados pelos seguidores de Yeshua e denominados pelos historiadores como testemunhas oculares pois, supõe-se terem sido escritos por aqueles que conviveram ou mesmo viveram no mesmo período (contemporâneos) dos discípulos do Messias.

O próprio Yeshua não escreveu absolutamente nada sobre sua vida e seus ensinos, tarefa assumida por seus talmidim. É pouco provável que os primeiros discípulos fossem alfabetizados tendo em vista que o índice de alfabetização no Império Romano por volta do primeiro século era baixíssimo. Muito mais na província da Galileia, uma das mais distantes e pobres de todo o Império. Nesta região onde Yeshua cresceu e pregou, ser alfabetizado era um luxo de poucas pessoas, algo restrito a nobreza e ao alto clero. 

Portanto, nas comunidades nazarenas do primeiro século as taxas de alfabetização eram baixíssimas, pois os primeiros seguidores do Messias vinham em sua maioria das classes mais pobres e menos letradas.
Por isso, as narrativas históricas que levam o nome de “evangelho” cuja autoria carregam nomes de alguns dos discípulos do Messias, nunca foram escritos por eles próprios, esta era uma forma de alguns autores anônimos darem créditos aos seus escritos, todavia, isso não invalida a autenticidade dos Escritos Nazarenos visto que, terem sido narrativas que contam relatos orais dos acontecimentos da vida e obra de Yeshua contadas por pessoas denominadas de testemunhas oculares.

As Primeiras narrativas:

As primeiras narrativas a serem escritas foram às Epístolas de Shaul haSheliach, denominadas pelos cristãos de “cartas paulinas”, estas foram escritas muito antes dos chamados evangelhos, aproximadamente uns 20 anos depois da morte de Yeshua. Shaul era  um homem bastante instruído, segundo o relato bíblico ele foi ensinado por um ilustre líder fariseu de nome Gamaliel, vejamos o relato de Atos:

“Eu sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas educado nesta cidade, aos pés de Gamaliel, instruído segundo o rigor da Lei de nossos ancestrais, zeloso por D’us, assim como todos vós sois neste dia” (Atos 22:3).

A existência de Gamaliel como respeitado e influente Raban (título superior ao de  rabino) é confirmado pela Míxena que diz a seu respeito: 

“Quando Raban Gamaliel, o ancião, faleceu, cessou a glória da Torah, e pereceram a pureza e a santidade” (Sotah 9:15). 

Portanto, Shaul era um homem culto por ter estudado com alguém de elevado nível entre os judeus, ele teria todas as condições de escrever sobre a vida de Yeshua, mas ele se limitou a redigir apenas algumas cartas de aconselhamentos endereçadas a algumas Comunidades nazarenas da época. É válido se ressaltar que, o fato de Shaul nunca ter conhecido pessoalmente Yeshua não o desqualifica como um autor ilibado, visto que, ele ter conhecimento sobre as narrativas orais da vida de Yeshua que já circulavam no meio nazareno.

Quantos são os chamados “evangelhos”?

Embora a igreja romana tenha escolhido apenas quatro para compor a chamada coleção dos “evangelhos” considerando-os canônicos, porém, haviam outros, dentre os quais podemos citar o "Evangelho de Pedro", "Evangelho de Nicodemos", "Evangelho de Tomé", "Evangelho de Filipe", "Evangelho da Verdade", "Evangelho de Judas" (Iscariote), "Evangelho de Maria Madalena" entre outros.

Sempre lembrando que todos estes chamados "evangelhos" só possuem cópias tardias em grego, ou seja, as cópias que se tem deles são do ano 200 E.C. em diante. Nenhuma destas cópias dos evangelhos são da mesma época dos discípulos, entretanto, isto não significa que não haviam os originais escritos no período dos discípulos, o problema é que eles não foram encontrados ainda.

Presume-se que tais originais se perderam com o tempo pelo fato de seus autores terem usado um material (pergaminho) barato e de pouca durabilidade, também há quem acredite que estes originais estejam super guardados e que um dia serão revelados, ou ainda, na pior das hipóteses, a igreja de Roma os tenha destruído após ter feito várias cópias dos mesmos pois, havia uma ordem do imperador Constantino que se destruíssem toda e qualquer escritura que fosse contrária às que já haviam sido “canonizadas” pelos concílios ecumênicos.

Em que língua foram escritos os Ketuvim Notserim??

Este é um assunto muito polêmico no meio acadêmico, há questões e questões a serem levados em conta, alguns historiadores afirmam que os Escritos Nazarenos foram copiados originariamente em hebraico e aramaico, tendo em vista o testemunho de pessoas que viveram poucos séculos depois dos discípulos de Yeshua e que declararam haver pelo menos um evangelho escrito em hebraico, vejamos estes testemunhos:

Eusébio de Cesareia (3º século):  “...de todos os discípulos, Mateus e João são os únicos que nos deixaram comentários escritos e, mesmo eles, foram forçados a isso. Mateus tendo primeiro proclamado o evangelho em hebraico, quando estava para ir também às outras nações, colocou-o por escrito em sua língua natal e assim, por meio de seus escritos, supriu a necessidade de sua presença entre eles."

Orígenes (2º século): “Segundo aprendi com a tradição a respeito dos quatro evangelhos, que são os únicos inquestionáveis em toda Igreja de Deus em todo o mundo. O primeiro é escrito de acordo com Mateus, o mesmo que fora publicano, mas depois apóstolo de Jesus Cristo, o qual, tendo-o publicado para os convertidos judeus o escreveu em hebraico"

Irineu de Lyon (2º século): “Mateus, de fato, produziu seu evangelho escrito entre os hebreus no dialeto deles..."

Jerônimo (4º século):  “Mateus, também chamado Levi, e que de publicano se tornou apóstolo, primeiro de tudo produziu um Evangelho de Cristo na Judeia, na língua e nos caracteres hebraicos, para benefício dos da circuncisão que haviam crido, Não se tem suficiente certeza de quem o traduziu mais tarde para o grego. Ademais, o próprio em hebraico está preservado até hoje na Biblioteca de Cesareia que o mártir Pânfilo ajuntou tão diligentemente. Os judeus nazarenos, que usam este volume, na cidade Síria de Bereia, permitiram-me também copiá-lo”  (Obra de Jerônimo: “De Viris Inlustribus” [A Respeito de Homens Ilustres] – Capítulo III – Tradução do Texto Latino editada por E. C. Richardson e publicado na série – Texte und Untersuchungen zur Geschichte der Altchristlichen Literature — Volume, 14, Leipzig, 1896, páginas 8 e 9.)

Todos estes testemunhos são unânimes em afirmar que havia pelo menos um evangelho escrito em sua língua original hebraica, sabemos que o evangelho de Mateus não foi o primeiro a ser escrito e que, segundo os historiadores, os autores do evangelho de Mateus e de Lucas se utilizaram das narrativas do evangelho de Marcos para compor seus escritos, sendo assim, se foi produzido um evangelho em língua hebraica baseando-se em uma outra narrativa, com certeza o livro do qual o escritor se baseou também estava escrito em hebraico.

Assim concluímos que, se o Evangelho de Mateus, que foi baseado no Evangelho de Marcos foi escrito em hebraico, logicamente que o Evangelho de Marcos bem como o de Lucas muito provavelmente tenham sido escritos também originariamente em hebraico ou mesmo no aramaico. Válido é se ressaltar que atualmente sabemos que Lucas, autor do evangelho que leva o seu nome, era de origem siríaco de Antioquia (ver Eusebius; EccL. Hist. 3:4) e que escreveu seu evangelho justamente endereçado a um amigo seu de nome Theophilus que era um Judeu que foi sacerdote do ano 37 a 41 E.C. (ver Flavio Josefus; Ant. 18:5:3), também de origem siríaco convertido ao judaísmo nazareno, assim como Lucas o era, todos os sacerdotes falavam e escreviam em hebraico e aramaico, sendo assim, obviamente, sua linguagem nativa era o siríaco, isto é, um dialeto aramaico.

Os Ketuvim Notserim estão no mesmo patamar que o Tanach??

Aqui, mais uma vez nos deparamos com um assunto polêmico, não para nós, judeus nazarenos que vivenciamos o contexto hebraico e não sofremos a influência teológica de Roma, mas para os cristãos e também para aqueles que vieram para a Teshuvá egressos do cristianismo.

É do conhecimento de todos que, quando a igreja romana juntou, escolheu, elaborou, adulterou e canonizou uma coleção de livros ao qual deram o nome de “Novo Testamento”, seu objetivo único era fazer com que esta “nova” coleção de escritos tomasse o lugar do Tanach hebraico entre os cristãos, não foi a toa que o bispo Marcião criou esta nomenclatura “novum testamentum” fazendo com que Jerônimo classificasse o Tanach hebraico de “velho testamento” em uma clara demonstração de que o “novo” veio para substituir o “velho”.

Porém fica a pergunta: Era esta a proposta dos discípulos e, de maneira mais restrita, a do apóstolo Shaul? De considerar o Tanach (a Torah, os Profetas e os Escritos) como já superados e ineficazes?? Claro que não, todas as vezes em que Yeshua e seus discípulos faziam menção das Escrituras, estavam se referindo ao Tanach hebraico e não a um suposto “novo testamento” que nem existia na época.
É válido também se ressaltar que, em nenhuma de suas cartas Shaul se refere a elas como “escrituras inspiradas”, muito ao contrário, ele chama sim de inspiradas e sagradas as Escrituras do Tanach, vejamos:

“E que desde a tua infância conheces as Sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há no Messias Yeshua. Toda a Escritura  divinamente inspirada, é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de D’us seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Timóteo 3:15-17)

Da mesma forma o apóstolo Pedro também se refere ao Tanach como divinamente inspirados:

"Nenhuma Profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a Profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de D’us falaram inspirados pela Ruach haKodesh (espírito Santo)" (2 Pedro 1:20-21)

Os cristãos apegam-se a um único texto mal interpretado de Pedro para afirmarem que os escritos de Shaul também estão em pé de igualdade com as Escrituras do Tanach, vamos analisar este texto na íntegra:

“Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Shaul lhes escreveu, com a sabedoria que lhe foi dada. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2 Pedro 3:15-16)

Vamos considerar 2 pontos:
a) Pedro não disse em momento algum que os escritos de Shaul eram inspirados, ao contrário, ele disse sim que Shaul escreveu com a SABEDORIA que lhe foi dada e não com a “inspiração” que lhe foi dada. Pedro deixa bem claro que Shaul escreveu seus escritos porque era um homem sábio e culto, porque tinha sido instruído aos pés de um grande Rabbi e que por isso tinha a sabedoria para escrever conforme a Torah e o Tanach, até hoje os judeus chamam para os escritores do Talmude de “nossos sábios”, uma expressão muito comum no meio judaico e que Pedro a usou corretamente.

b) Pedro disse que os ignorantes torcem os escritos de Shaul da mesma forma como eles torcem as Sagradas Escrituras para destruição deles, aqui, Pedro está fazendo uma comparação de ATITUDE e não uma comparação de escrituras, é muito tolo o raciocínio de quem pensa que Pedro está pondo os escritos de Shaul em pé de igualdade com o Tanach, pois, por exemplo, quem torce as minhas palavras vai torcer também as palavras de qualquer um e, até mesmo as de D’us, é exatamente neste sentido que Pedro se referiu.

Um judeu precisa do “novo testamento” para reconhecer Yeshua?

A resposta bíblica é NÃO. O próprio Messias Yeshua disse que, quem quisesse saber sobre ele que pesquisasse na Torah, nos Profetas e nos Escritos, ou seja, no Tanach, vejamos:

“E começando por Moisés, passando por todos os Profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras.” (Lucas 24:27)

“E disse-lhes: Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito estava escrito na Torah dada a Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras” (Lucas 24:44-45)

“Vocês devem estudar cuidadosamente as Escrituras, porque julgam que nelas vocês têm a Vida Eterna. E são as próprias Escrituras que testemunham a meu respeito” (João 5:39)

Como vimos pelo próprio Messias, um judeu não precisa do “novo testamento” para reconhecer Yeshua como Messias, aliás, todos os judeus que se tornaram nazarenos se convenceram porque viram a figura do Messias exposta nas Escrituras do Tanach.

Conclusão:

Os judeus nazarenos costumam classificar as Escrituras da seguinte maneira: *Escrituras Ditadas, *Escrituras Inspiradas e *Narrativas históricas. A Torah Sagrada forma o grupo de Escrituras que foram ditadas pelo próprio Eterno, Adonai falava e Moisés escrevia, por isso costumamos dizer que a Torah não foi inspirada mas sim Ditada pelo próprio Eterno. Os Escritos Proféticos formam o grupo de Escrituras Inspiradas pela Ruach do Eterno, Adonai enviava sua emanação espiritual e os profetas escreviam por inspiração divina. Porém, os Ketuvim Notserim constituem-se em Narrativas Históricas sobre a chegada do Messias e seu ministério messiânico na terra, eles são o Testemunho do verbo que se tornou carne e habitou entre nós.

Os Escritos Nazarenos possuem o seu valor histórico e espiritual, portanto, devem ser considerados e respeitados como parte importante no processo de Teshuvá, pois narram o surgimento da primeira Comunidade nazarena, o Yisrael Remanescente que iria fazer Teshuvá segundo o profeta Isaías(ver Isaías 10:22) e mostra como viviam os nossos irmãos do passado, é o único documento histórico que temos sobre o nosso passado, mesmo que depois de tantas adulterações, o que implica em não ser confiável como regra de Fé e doutrinária, ainda assim testificamos sua autenticidade original.

Com a ajuda do Espírito do Eterno conseguimos vislumbrar a essência hebraica e o pensamento judaico por trás de tantas adulterações e acréscimos que infelizmente eles sofreram, por isso, é um ERRO GRAVE despreza-los em detrimento do que fizeram com eles, sabemos que Adonai não se deixa escarnecer e que por isso, toda a verdade virá à tona, e enfim, teremos de volta os Escritos dos nossos sábios em toda a sua pureza original na qual foram escritos.

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