quinta-feira, 15 de junho de 2017

OS CRISTÃO CELEBRAVAM A PASCOA JUDAICA ATÉ O 4º SÉCULO



E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a Lei/Torá; e eles serão entregues na sua mão, por um tempo, e tempos, e a metade de um tempo. Daniel 7:25

Nota: veremos abaixa uma confissão de Eusébio de Cesárea, uma mudança da Torá feita por homens e não por Deus, parte do cumprimento da profecia de Daniel acima citado.

Fica claro que os então chamados “Cristãos” celebravam a páscoa de acordo como está escrito na Torá.

Números 9:14   E, quando um estrangeiro peregrinar entre vós, e também celebrar a páscoa ao Eterno, segundo o estatuto da páscoa e segundo o seu rito assim a celebrará; um mesmo estatuto haverá para vós, assim para o estrangeiro, como para o natural da terra.

Nota: mesmo depois do decreto romano, Polícrates continuou firme na observância a festa de acordo como prescreve a Torá. A mesma argumentação foi usada para mudar o dia de descanso do Shabat para o primeiro dia da semana.



XXIII
Da questão então movida sobre a Páscoa

1.     Por este tempo levantou-se uma questão bastante grave, por certo, porque as igrejas de toda a Ásia, apoiando-se em uma tradição muito antiga, pensavam que era preciso guardar o décimo quarto dia da lua para a festa da Páscoa do Salvador, dia em que os judeus deviam sacrificar o cordeiro e no qual era necessário a todo custo, caindo no dia que fosse na semana, pôr fim aos jejuns, sendo que as igrejas de todo o resto do mundo não tinham por costume realizá-lo deste modo, mas por tradição apostólica, guardavam o costume que prevaleceu até hoje: que não é correto terminar os jejuns em outro dia que não o da ressurreição de nosso Salvador.
2.     Para tratar deste ponto houve sínodos e reuniões de bispos, e todos unânimes, por meio de cartas, formularam para os fiéis de todas as partes um decreto eclesiástico: que nunca se celebre o mistério da ressurreição do Senhor de entre os mortos em outro dia que não no domingo, e que somente nesse dia guardemos o fim dos jejuns pascais.
3.     Ainda se conserva até hoje um escrito dos que se reuniram naquela ocasião na Palestina; presidiram-nos Teófilo, bispo da igreja de Cesaréia, e Narciso, da de Jerusalém. Também sobre o mesmo assunto conserva-se outro escrito dos reunidos em Roma, que mostra Victor como bispo; e também outro dos bispos do Ponto presididos por Palmas, que era o mais antigo, e outro das igrejas da Gálía, das quais era bispo Irineu.
4.     Assim como também das de Osroene e demais cidades da região, e em particular de Baquilo, bispo da igreja de Corinto, e de muitos outros, todos os quais, emitindo um único e idêntico juízo, estabelecem a mesma decisão. Estes pois, tinham como regra única de conduta a já exposta.


XXIV
[Sobre a dissensão na Ásia]

1.     Os bispos da Ásia, por outro lado, com Polícrates à frente, seguiam insistindo com força que era necessário guardar o costume primitivo que lhes fora transmitido desde antigamente. Polícrates mesmo, numa carta que dirige a Victor e à igreja de Roma, expõe a tradição chegada até ele com estas palavras:
2.     "Nós pois, celebramos intacto este dia, sem nada juntar nem tirar. Porque também na Ásia repousam grandes luminárias, que ressuscitarão no dia da vinda do Senhor, quando vier dos céus com glória e em busca de todos os santos: Felipe, um dos doze apóstolos, que repousa em Hierápolis com duas filhas suas, que chegaram virgens à velhice, e outra filha que, depois de viver no Espírito Santo, descansa em Éfeso.
3.     E também João, o que se recostou sobre o peito do Senhor e que foi sacerdote portador do pétalon, mártir e mestre; este repousa em Éfeso.
4.     E em Esmirna, Policarpo, bispo e mártir. E Traseas, também ele bispo e mártir, que procede de Eumenia e repousa em Esmirna.
5.     E que falta faz falar de Sagaris, bispo e mártir, que descansa em Laodicéia, assim como o bemaventurado Papirio e de Meliton, o eunuco[1], que em tudo viveu no Espírito Santo e repousa em Sardes esperando a visita que vem dos céus no dia em que ressuscitará de entre os mortos?
6.     Todos estes celebraram como dia da Páscoa o da décima quarta lua, conforme o Evangelho, e não transgrediram, mas seguiam a regra da fé.
E eu mesmo, Polícrates, o menor de todos vós, (faço)[2] conforme a tradição de meus parentes, alguns dos quais segui de perto. Sete parentes meus foram bispos, e eu sou o oitavo, e sempre meus parentes celebraram o dia quando o povo tirava o fermento.
7.     Portanto, irmãos, eu com mais de sessenta e cinco anos no Senhor, que conversei com irmãos procedentes de todo o mundo e que recorri toda a Sagrada Escritura, não me assusto com os que tratam de impressionar-me, pois os que são maiores do que eu disseram: Importa mais obedecer a Deus do que aos homens."
8.     Logo acrescenta isto que diz sobre os bispos que estavam com ele quando escrevia e eram da mesma opinião:
"Poderia mencionar os bispos que estão comigo, que vós pedistes que convidasse e que eu convidei. Se escrevesse seus nomes seria demasiado grande seu número. Eles, mesmo conhecendo minha pequenez, deram seu assentimento a minha carta, sabedores de que não é em vão que levo meus cabelos brancos, mas que sempre vivi em Cristo Jesus."
9.     Ante isto, Victor, que presidia a igreja de Roma, tentou separar em massa da união comum todas as comunidades da Ásia e as igrejas limítrofes, alegando que eram heterodoxas, e publicou uma condenação por meio de cartas proclamando que todos os irmãos daquela região, sem exceção, estavam excomungados.
10. Mas esta medida não agradou a todos os bispos, que por sua parte exortavam-no a ter em conta a paz e a união e a caridade para com o próximo. Conservam-se inclusive as palavras destes, que repreendem Victor com bastante energia.
11. Entre eles está Irineu, na carta escrita em nome dos irmãos da Gália, dos quais era o chefe. Irineu concorda que é necessário celebrar unicamente no domingo o mistério da ressurreição do Senhor; no entanto, com muito bom senso, exorta Victor a não amputar igrejas de Deus inteiras que haviam observado a tradição de um antigo costume, e a muitas outras coisas[3]. E acrescenta textualmente o que segue:
12. "Efetivamente, a controvérsia não é somente sobre o dia, mas também sobre a própria forma do jejum, porque uns pensam que devem jejuar durante um dia, outros que dois e outros que mais; e outros dão a seu dia uma medida de quarenta horas do dia e da noite.
13. E uma tal diversidade de observantes não se produziu agora, em nossos tempos, mas já muito antes, sob nossos predecessores, cujo forte, segundo parece, não era a exatidão, e que forjaram para a posteridade o costume em sua simplicidade e particularidade. E todos eles nem por isso viveram menos em paz uns com os outros, tanto quanto nós; o desacordo quanto ao jejum confirma o acordo quanto à fé."
14. A isto acrescenta também um relato que será conveniente citar e que diz assim:
"Entre ele, também os presbíteros antecessores de Sotero, que presidiram a igreja que tu reges agora, quero dizer Aniceto, Pio e Higinio, assim como Telesforo e Sixto: nem eles mesmos observaram o dia nem permitiam aos que estavam com eles escolher, e nem por isso eles mesmos, que não observavam o dia, viviam menos em paz com os que procediam das igrejas em que se observava o dia, e ainda assim, observar o dia resultava mais em oposição para os que não o observavam.
15. E nunca se rechaçou ninguém por causa desta forma, antes, os próprios presbíteros, teus antecessores, que não observavam o dia, enviavam a eucaristia[4] aos de outras igrejas que o observavam.
16. E encontrando-se em Roma o bem-aventurado Policarpo nos tempos de Aniceto, surgiram entre os dois pequenas divergências, mas em seguida estavam em paz, sem que sobre este capítulo se querelassem mutuamente, porque nem Aniceto podia convencer Policarpo a não observar o dia -como sempre o havia observado, com João, discípulo de nosso Senhor, e com os demais apóstolos com quem conviveu -, nem tampouco Policarpo convenceu Aniceto a observá-lo, pois este dizia que devia manter o costume dos presbíteros seus antecessores.
17. E apesar de estarem assim as coisas, mutuamente comunicavam entre si, e na igreja Aniceto cedeu a Policarpo a celebração da eucaristia, evidentemente por deferência, e em paz se separaram um do outro; e toda a Igreja tinha paz, tanto os que observavam o dia como os que não o observavam."
18. E Irineu, fazendo honra a seu nome[5], pacificador pelo nome e por seu próprio caráter, fazia estas e semelhantes exortações e servia de embaixador em favor da paz das igrejas, pois tratava por correspondência epistolar ao mesmo tempo, não somente com Victor, mas também com muitos outros chefes de diferentes igrejas, sobre o problema debatido.

XXV
[De como houve acordo unânime entre todos sobre a Páscoa][6]

1. Os bispos da Palestina antes mencionados, Narciso e Teófilo, e com eles Cassio, bispo da igreja de Tiro, e Claro da de Ptolemaida392, assim como os que haviam se reunido com estes, deram detalhadas e abundantes explicações acerca da tradição sobre a Páscoa, vinda até eles por sucessão dos apóstolos, e ao final da carta acrescentam textualmente:
"Procurai que se envie cópia de nossa carta a cada igreja, para que não sejamos responsáveis pelos que, com grande facilidade, desencaminham suas próprias almas. Manifestamos a vós que em Alexandria celebram precisamente o mesmo dia que nós, pois entre eles e nós vêm-se trocando correspondência epistolar, de modo que nos é possível celebrar o dia santo em consonância e simultaneamente."



[1] Eunuco não no sentido estrito, mas de "contido".
[2] Falta o verbo no original, talvez por um corte descuidado.
[3] Esta carta de Irineu a Victor teve como efeito a suspensão da excomunhão.
[4] Enviava-se a eucaristia em sinal de comunhão.
[5] Eirenaios = pacífico.
[6] Apesar do título, trata-se apenas de um acordo existente na prática das igrejas da Palestina e a de Alexandria. 392 Na Síria.

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